por Leko Soares
Toda ação de repúdio se motiva por uma causa, aquele
acontecimento limite que nos acostumamos a chamar de “a gota d’água”. Antes, porém, vem o fluxo, a enxurrada, a
torneira que enche o copo e a tal gota é só o que o faz transbordar.
Me lembro bem quando o Edu Falaschi, na época vocalista do
Angra, aproveitou de sua força de exposição para dizer aquilo que muitos
membros das bandas nacionais adorariam ter dito, mas nenhum teve coragem
suficiente para fazê-lo (ou projeção suficiente para ser ouvido). A sucessão de
escrachos, discursos indignados e julgamentos que se seguiram foram dignos de
um “espetáculo” de apedrejamento em praça pública, desses que ocorrem com certa
frequência em um país fundamentalista qualquer.
Entretanto, analisando o episódio e seus desdobramentos já
com um certo distanciamento do ocorrido, a verdade é que as questões levantadas
pelo vocalista em um momento de total indignação tocou na ferida de muitos dos
chamados “headbangers” do cenário Underground nacional. Muita gente se indignou
com a maneira como o Falaschi falou abertamente sobre os problemas da nossa
cena, usando termos como “chupa-rola de gringo”, dentre outros tão carinhosos
quanto. Fato é, que, muito dessa indignação exacerbada no fundo justifica e
amplifica aquela velha expressão que diz: “se a carapuça serviu....”
E serviu para muita gente. Desde músicos, promotores, gente
da imprensa e em especial uma nova raça que se desenvolveu nos últimos anos e
vem se proliferando com frequência: os chamados “ratos de internet”. Sim, estou
me referindo aquele moleque babão (às vezes nem tão moleque assim), que adora
ficar o dia todo sentado atrás de um computador, conectado a algum chat
criticando bandas, músicos, o próprio site e tudo o que não fizer parte do seu
pseudo “padrão de qualidade”. Aí sempre tem alguém que vai levantar a bola e
dizer: “Todo mundo tem o direito de expressar sua opinião sobre qualquer
assunto e blablabla”. É verdade, mas a ironia da história é que esse mesmo
moleque babão (às vezes nem tão babão assim) que não compra CDs, não vai em
shows e atira para todos os lados, é sempre o primeiro a criticar a cena e se
justifica dizendo que não vai aos eventos porque “são amadores demais” ou que
não compra CDs de bandas nacionais porque “a produção não é igual a das bandas
gringas” (o que em geral, é uma grande mentira). Mal sabe ele, que a grande
culpa por esse amadorismo na estrutura e organização dos eventos ou mesmo a
suposta falta de qualidade de produção das bandas nacionais nasce exatamente da
falta de apoio do pseudo “banger” à cena. É essa falta de apoio e pior, a quase
militância desses indivíduos contra o real cenário underground no Brasil que
mina as bases de qualquer movimento que possa existir por aqui. É evidente que
amadorismo e falta de qualidade muitas vezes tem origens em si próprio, na
nossa questão cultural, no jeitinho brasileiro e na falta de talento de algumas
bandas, mas, analisando de uma maneira mais ampla, é óbvio que o pseudo banger,
rato de internet é o maior câncer da nossa cena.
Mas e a gota d’água do início do texto, aquela que me motivou
a escrever sobre tudo isso, onde fica?
Já ouviram aquela expressão: “desgraça pouca é bobagem”? Pois
bem, não bastasse esses pseudo “bangers” minarem o Underground dia após dia,
seja por seu voraz senso crítico (comparável ao de uma lhama), seja por sua
inércia em relação a qualquer tipo de contribuição real à cena, a verdade é que
não satisfeitos, esses parasitas hoje se infiltram na chamada imprensa
underground, que sim, é muito séria e engajada, mas começa a correr riscos em
relação à sua credibilidade, caso esse “câncer” continue se infiltrando entre
os SÉRIOS, seja criando blogs, participando de pseudo assessorias, escrevendo
resenhas sem o mínimo conhecimento de causa ou COBRANDO (isso mesmo) para
resenhar álbuns em seus sites. E assim finalmente chegamos à gota d’água que
transbordou a minha indignação e vontade de desabafar sobre esse grande mal que
enfraquece e suga as últimas forças de uma cena já tão debilitada. Como pode um
site cobrar por resenhas? E vou além, como um site que cobra por resenhas pode
garantir imparcialidade? Pois é, não pode!
E no fim, a falta de apoio às bandas nacionais, o amadorismo
das produtoras de eventos, a parcialidade de boa parte da imprensa e a
infiltração dos “ratos de internet” em todos os setores da cena podem ser
apontadas, sim, como causas que impedem o crescimento da cena.
É lógico que sempre vão ter as bandas “Alice”, que preferem
fingir que vivem em um Underground de maravilhas, bradando não terem problemas
nenhum com a cena, já que seus shows “estão sempre lotados”e seus “CDs vendem
muito”, e assim remam contra a maré e não reconhecem (pelo menos publicamente) o
óbvio: que infelizmente mesmo os nossos “rock estrelas” fajutos estão no mesmo
barco de todas as outras bandas e negar isso só vai contribuir para a
perpetuação dos problemas.
Por fim, a única constatação que fica é que a nossa cena está
enferma faz tempo e a realidade é que o único remédio para começar a consertar
tudo isso, meu companheiro, É VOCÊ!